Detesto rótulos e não suporto etiquetar as pessoas. Acredito no processo de devir das pessoas. E o ser humano é a criatura mais adaptável do mundo. Desde muito cedo, recebi os mais variados rótulos: esquentadinho, estressado, colérico, desaforado e, depois de padre, os seguintes rótulos: conservador, tradicionalista, extrema e ultra direita, grosseiro, mimado, rigoroso, metido e tantos outros. Como estudante de psicologia tenho feito o exercício de autoanálise. O autoconhecimento é a chave do sucesso, mas também o silêncio, quando possível e necessário. Pelo temperamento, tendo a responder ou deixar as coisas minimamente claras. Mas, recentemente, alguém me chamou de tradicionalista. Outras vezes tinha ouvido este letreiro, então comecei a estudar e refletir sobre seu significado e importância na minha vida e no ministério sacerdotal. Refleti sobre os meus 10 anos de sacerdócio. Fiz um caminho lindo de amor a Cristo e a sua Igreja, de modo inquestionável e extremamente ilibado. O tradicionalismo católico é, segundo alguns autores, um sistema ideológico às vezes intelectualizado ou ativista, autodeclarado como remédio contra a modernidade, que nega as verdades do Concílio Vaticano II e tende a um rigorismo hermética e apologético contra o ministério petrino do Papa Francisco e, as novas concepções eclesiológicas do Vaticano II admitem, liturgicamente, a missa _vetus ordo_, renegando, sumariamente o _novus ordo_. Criticam o _novus ordo_ como princípio das heresias modernistas não acreditam na eficácia redentora do Sacrifício Eucarístico no _novus ordo_. Segundo o Pe. Eliseu Wisniewski, doutor em teologia, “o tradicionalismo se apresenta do seguinte modo na Igreja católica: Os tradicionalistas se apresentam hoje como defensores da teologia da conservação, que dá fundamentos para a proposição de um catolicismo distinto do professado por aqueles que apostaram em utopias sociais, em afinidade direta ou indireta com os ideais e modelos socialistas, e por aqueles que insistiram nas reformas conciliares por meio de movimentos e de uma cultura que se consolidou nas rotinas pastorais desde o final do Vaticano II. "Hoje, se torna cada vez mais visível o apoio tradicionalista às direitas emergentes, o qual se eleva nas rachaduras da democracia liberal. O retorno às velhas seguranças constitui estratégia de enfrentamento do caos, voltando ao início: ao Estado forte que, enfrenta o domínio do econômico, à nação como comunidade cultural, à família patriarcal e a Deus como fundamento. Nessas dinâmicas de retorno, as posturas religiosas tradicionalistas avançam como fundamento geral que fornece a última palavra sobre a verdade, a segurança e a ordem.” Afirmação conciliar Vaticano II, sobre a liturgia e a rica tradição eclesial”.
O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos, e deseja que, onde for necessário, sejam prudente e integralmente revistos no espírito da sã tradição e lhes seja dado novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.” A Igreja, ao longo de sua história assistida pelo Espírito Santo, consegue responder às vicissitudes e necessidades humanas, sem perder sua essência e firmando sempre mais o primado da Verdade. Como afirma o próprio Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.” (Jo 14, 7). Estamos neste artigo falando sobre rótulos. Não é um estudo sobre eclesiologia e/ou teologia do Vaticano II, demanda tempo e reflexão mais acurada.
“Cada rótulo é como um túnel que fecha nossa visão para uma realidade mais ampla e complexa. E se não temos uma perspectiva global do que está acontecendo, não podemos responder de forma adaptativa. Nesse momento, paramos de responder à realidade para começar a responder à imagem distorcida da realidade que construímos em nossa mente.” (Jennifer Delgado Suárez) Precisamos então nos questionar: Os rótulos que imprimimos nos outros revelam mais os outros ou a nós mesmos? Nunca neguei as verdades conciliares do Vaticano II, respeito e amo incondicionalmente o papa Francisco como legítimo e autêntico sucessor de Pedro, e continuador no mundo da obra de Cristo, escolhido por Ele em nosso tempo para governar sua Barca.
O rótulo em mim impresso ou etiquetado foi por causa das minhas posições ideológicas e o modo como primo pela liturgia, como base nos documentos do Concílio Vaticano II, encíclicas e documentos do magistério dos papas pré e pós-conciliar Vaticano II, como foi afirmado anteriormente. Tenho, ao longo dos anos, incentivado o povo ao silêncio na Missa e o uso da música litúrgica segundo as normas da Igreja como o papa Francisco o fez várias vezes. Sem pantomimas e fiel ao missal romano e às normas vigentes da Igreja, nunca celebrei no _vetus ordo_, mas tenho muito interesse de aprender e celebrar a valiosa tradição da Igreja de Cristo, sem jamais renegar o _novus ordo_. Parafrasear Toni Morrison, a escritora americana ganhadora do Prêmio Pulitzer e Prêmio Nobel de Literatura, escreveu: “As definições (rótulos) pertencem aos definidores (rotuladores) não às definidas (rotulados)”. Estas acusações não busco defender, reflito e compreendo estar no caminho certo, na fidelidade a Cristo e a sua Igreja. Os rótulos a mim dirigidos não falam de mim, mas daqueles “experts” (tom sarcástico) em comportamento humano e pessoas profundamente ajustadas emocionalmente e psicologicamente. Se mostram como melhores pessoas do mundo e juízes da vida dos outros. A eles minha constante oração, caridade e silêncio como repostas diante das calúnias e infâmias a mim perpetradas.
O amor constrói, o rótulo, a invídia, a fofoca, o desdém e as calúnias destroem. Toda vez que se rotula alguém, sua dignidade de filho de Deus é ferida e se impõe limite à ação da graça divina na vida das pessoas, passíveis de mudança ou conversão. De modo cruel e determinístico presume-se uma característica nem sempre verdadeira sobre o indivíduo, inviabiliza-se seu processo de evolução e incide um possível assassinato moral sobre a pessoa rotulada.
Não rotule. Juntos vamos acabar com a cultura da “etiquetação”. Nós, padres e bispos, desenvolvamos a cultura da acolhida e do amor. Não da segregação e da formação de grupos de poder. Evitemos o máximo a fofoca. Encerre esta cultura do “ouvir dizer”, “juntei os pontos”, seja honesto, isto se chama: fofoca. Seja capaz de ouvir o outro lado com sensibilidade, ternura e buscando a verdade.
Portanto, se em algum momento rotulei você, peço sinceras desculpas. E comprometo-me sempre a confiar na sua evolução como ser humano e filho de Deus.
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