Um paterno bispo sergipano, D. Dulcênio Fontes de Matos


Ainda no tempo de seminarista, conheci o bispo auxiliar de Aracaju, lagartense, D. Dulcênio Fontes de Matos, na dedicação do altar da Paróquia Senhor dos Passos, Maruim–SE, observador, sisudo, no sentido de sempre muito sério e, ao mesmo tempo, acolhedor. De longe, observava suas atitudes, palavras e gestos. Não me aproximei, pois fui educado familiarmente para sempre ser discreto e somente participar de uma conversa se fosse chamado e a não ser invasivo. Destarte, de longe, observava sua atenção a todos que se aproximavam. Depois, em 2006, já fora do seminário e fazendo uma experiência missionária na diocese de São Miguel Paulista–SP, acessando o site da CNBB, constatei sua nomeação para a minha amada diocese de Palmeira dos Índios–AL. Prontamente liguei e saudei-o pela sua nomeação. Prontamente, foi muito educado e agradeceu, pedindo que eu rezasse pela sua nova missão. Em 2007, retornando para Alagoas, solicitei o retorno para diocese. Declarou que nada constava contra a minha pessoa, como consta em uma carta entregue a mim. Mas, naquele momento não seria possível autorizar meu retorno para diocese para prosseguir meus estudos em vista do sacerdócio ministerial. 

Anos se passaram, sempre fui muito educado. Eis a importância da base familiar: mesmo tendo recebido o não, naquele momento, entendi os propósitos de Deus, segui a minha vida, iniciei o curso de teologia no CESMAC, e, em 2010, retornei para o seminário. Em 2011, passei por algumas situações difíceis no processo vocacional e, através da intercessão do Monsenhor Josevel Mendes - minha eterna gratidão -, iniciamos os diálogos para retornar à diocese de Palmeira dos Índios–AL. De fato aconteceu e fiquei, após a conclusão dos estudos teológicos, exercício estágio diaconal no Seminário diocesano, localizado na Sé diocesana. Em 2 de julho de 2012, fui ordenado diácono e, em 20 de dezembro de 2012, fui, por suas santas mãos, ungido sacerdote para sempre. Sua presença paternal, amizade, carinho e disponibilidade em ajudar sempre foram suas marcas. Preciso destacar seu temperamento às vezes exasperado, mas um doce como “favo de mel”, ágil nas decisões, perspicaz nas ponderações e extremamente paterno. Sua vida e ministério é um dom para todos que o conhecem. Tivemos dificuldades na nossa relação, obviamente que sim, pois antes eu era um jovem ousado e desaforado, e ele com um temperamento aguçado. Agora, com 40 anos, mais maduro, compreendo muitas de suas decisões em relação a mim. Também, como providência divina, agindo na minha vida. A claridade e firmeza de suas ações denotam amor incondicional pela Igreja. É, sem sombra de dúvida, _vir Christi et homo ecclesiae_. 

Apaixonado pela vocação. Nas nossas últimas conversas, destacou o bispo de Campina Grande: “Do fundo do meu coração, padre, não pensava que seria bispo, pois não tinha conchavos eclesiais, era um matuto do sítio, mas, quando Deus quer, nada pode empatar”. Deus chamou-nos no seu amor. Pensei, naquele momento, em silêncio, na minha vocação. Vossa Reverendíssima pode ter certeza: tem lugar diário nas minhas preces ao Bom Deus. Tu és um homem bom. Um coração generoso e fiel à Igreja de Jesus. Exemplo para mim, jovem sacerdote. Morei alguns meses, escutei muitas coisas e tantas vezes vi-o chorando por decisões a serem tomadas. 

Deus lhe concedeu uma vocação sublime na Igreja, uma verdadeira sentinela. De prontidão para aproximar-se, amar e servir. Quantas vezes cansado, ainda tinha um tempo para rezar, pensar como solucionar certos problemas do melhor modo, ler, ligar para seus familiares e as dores no corpo constantes, somatizadas pelos enormes problemas da diocese. Convivi e sei exatamente como Vossa Reverendíssima se preocupa e se entrega no serviço eclesial. Em 2017 decidi vim exercer o ministério na Arquidiocese de Maceió, escutou-me e coloquei minhas ponderações, Deus sabe tudo, tocando seu coração, deixou-me partir, estava com o coração despedaçado por questões deixadas no passado, envolvia calúnias e mentiras deflagradas contra mim. Confiastes em mim. E foi a providência que tudo permitiu pela intercessão da Virgem Maria, Ela que tudo fez. Hoje sem dúvida posso dizer: foi a melhor decisão ter vindo morar em Maceió. 

Nas palavras do Papa Francisco, enxergo o Senhor, Dom Dulcênio: “Tal é a paternidade espiritual, que impele o bispo a não deixar órfãos os seus sacerdotes, podendo-se «tocar com a mão» não apenas na capacidade de manter abertas as portas a todos os sacerdotes, mas também na preocupação de sair à sua procura para acompanhá-los quando atravessam um momento difícil.” És próximo dos seus sacerdotes, seminaristas e povo, sabes acalentá-los naqueles momentos difíceis. Nos últimos meses, não recebi mais aquelas videochamadas, mensagens, felicitações pelo aniversário e sinto até falta, mas depois compreendi o quanto vossa vida é corrida e cheia de compromissos. 

Teu coração pulsa de um amor verdadeiro e sincero. Aqui está um filho que lhe devota muito amor, gratidão e admiração. Em 20 de dezembro de 2022, nos meus 10 anos de sacerdócio, fez esforço para se fazer presente e celebrar o dom da minha vocação. Este foi um texto escrito _ex corde ad cor_, na sinceridade de quem é capaz de ser grato pelo amor com o qual sempre foi amado. 

Deus lhe abençoe!

 

 



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