O rótulo do tradicionalismo

“ É que o zelo de vossa casa me consumiu, e os insultos dos que vos ultrajam caíram sobre mim.” (Sl 68,10)






Neste artigo devo ser criminalizado por dizer o óbvio, mas infelizmente alguns por maldade ou inaptidão intelectual são incapazes de perceber o óbvio.  

Em artigo anterior, já havia falado sobre a perversidade de rotular. Atualmente, não me irrita ou encoleriza quando são imputadas contra mim calúnias, fofocas, rótulos e mentiras. Compreendi que algumas impressões dos outros sobre a minha pessoa são sempre frágeis, covardes e muitas vezes recheadas de inveja. É sempre um modo distorcido de enxergar os outros, pois a essência, somente Deus pode perscrutar e conhecer. “Eu, porém, que sou o Senhor, sondo os corações e escruto os rins, a fim de recompensar a cada um segundo o seu comportamento e os frutos de suas ações.” (Jr 17,10) 

Nos últimos dias algumas pessoas têm me procurado porque escutaram de alguns sacerdotes que sou tradicionalista, ou seja, odeio o Papa Francisco e não respeito a CNBB, não aceito a missa do missal de Paulo VI. Afirmo categoricamente: são mentecaptos, energúmenos ou néscios, ou covardemente desonestos. Imputar sobre outro algo que não é verdade é no mínimo covardia. Conceituarei para que os néscios compreendam o tradicionalismo, não farei elucubrações em proposições complexas, polissêmicas e históricas sobre o tradicionalismo católico, estas pessoas tão inteligentes, talvez sejam incapazes de compreender ou assimilar a acepção do tema. “Endureceram o seu coração como um diamante, para não entenderem as instruções e as palavras que o Senhor dos exércitos lhes dirigia pelo seu Espírito, por meio dos antigos profetas. Por isso, o Senhor dos exércitos indignou-se vivamente contra eles.” (Zc 7,12) Tradicionalismo católico: são católicos herméticos, não aceitam as verdades do Concílio Vaticano II, a Missa no rito de Paulo VI e não aceitam o primado do papa Francisco, como legítimo e autêntico sucessor de Pedro. Sinteticamente: “Rad-trads' é um neologismo da palavra inglesa radical traditionalism (tradicionalismo radical), ou seja, se refere ao católico que não aceita o Concílio Vaticano II e o missal promulgado por Paulo VI em 1969.” Vamos lá: Aceito e uso os documentos do Vaticano II, na prática pastoral e no exercício do meu ministério. Ora, os documentos conciliares possuem uma riqueza teológica sem precedência, _un aggiornamento della chiesa_, inspirado pelo Espírito Santo, mal interpretado e usado de modo desonesto por muitos teólogos. Nunca celebrei a Missa _vetus ordo_; diariamente celebro _novus ordo_; entretanto tenho curiosidade em aprender e conhecer a rica e bela tradição eclesial. Os ritos nos mais variados modos são uma riqueza na Igreja Católica, Apostólica e Romana. Encontro na Missa celebrada diariamente com o Missal de Paulo VI, uma fonte inesgotável para minha espiritualidade sacerdotal. Tenho zelo pela liturgia, cultivo o silêncio, uso paramentos simples, mas honrosos, pois compreendo que o mistério por mim celebrado é o sacrifício de Cristo. Parem de rotular as pessoas com seus critérios mentirosos e mesquinhos. Continuem suas vidas tristes, medíocres e extremamente impudicas, secas e sem mística. Usam das homilias para deflagrar ofensas, humilhar e apropriarem-se do mistério eucarístico para seus caprichos pessoais. Respeitem minha história vocacional, meu amor fiel à Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, Apostólica e Romana. “Que coisa feia é a inveja! É uma atitude, um pecado feio. E, no coração, o ciúme ou a inveja crescem como a erva daninha: cresce, mas não deixa a erva boa crescer. Tudo o que pensa. que pode ofuscá-los, faz-lhes mal. Não estão em paz! São uns corações atordoados, são corações feios! Mas também o coração invejoso – ouvimos aqui – leva a matar, leva à morte. E a Escritura o diz claramente: "por inveja do diabo, a morte entrou no mundo” (Papa Francisco). 

Aos amigos preocupados com minha imagem distorcida em vários ambientes eclesiais e por alguns sacerdotes, peço encarecidamente: escutem e silenciem, orem para a conversão dessas pessoas. Corrijam-nas se for possível. Conduzam-nos à Verdade. Durmo todas as noites com o coração em paz. Repito o artigo anterior: Não faço conchavos. Não me alio a jogos de poder. Avesso à fofoca e à bajulação. Sou focado na vida de oração, no estudo e na vida pastoral. Estas pessoas são bajuladoras, vivem para o carreirismo e são “sepulcros caiados”. Reafirmo meu total respeito a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Às vezes discordo de algumas colocações, atitudes e hermenêuticas teológicas de alguns bispos, mas nunca faltarei com respeito, pois fui muito bem educado familiarmente. Exponho de modo coeso e respeitoso algumas divergências epistemológicas sobre a fé católica e práticas sazonais de alguns bispos ou assessores da CNBB, no campo das diversidades, porém nunca de forma desrespeitosa. Conceituar ou definir o outro é um modo de controle. Inconsciente, às vezes desejo o outro ou as capacidades e talentos dos outros, por esta razão tenho necessidade de enquadrá-los em meus parâmetros pessoais. “A alteridade nunca é englobada em um conceito, nunca termina em número ou cifras, mas está fora da objetivação, está fora dos meus alcances e poderes. O outro permanece infinitamente transcendente, infinitamente estrangeiro, mas seu rosto, o qual produz sua epifania e que me chama, rompe com o mundo. Romper no sentido da natureza tentadora de dominar o outro, colocando-o numa ordem lógica (...)” (Grzibowski, 2010, p. 81). Precisamos romper esta necessidade medíocre de encaixar as pessoas em quadros ou parâmetros concernentes ao meu modo de conceber, ou entender o mundo pessoal do rotulador. O outro é livre e plural, multifacetário e extremamente capaz de mudar, claro, quando aberto às moções do Espírito Santo. “O modo como o outro se apresenta, ultrapassando a ideia do outro em mim, chamamo-lo, de fato, rosto. Esta maneira não consiste em figurar como tema sob o meu olhar, em expor-se como um conjunto de qualidades que formam imagem. O rosto de outrem destrói em cada instante e ultrapassa a imagem plástica que ele deixa. A ideia à minha medida e à medida do seu ideatum - a idéia adequada não se manifesta por essas qualidades, mas (...). Exprime-se (Levinas, 1980, pp. 37-38). O outro sempre é um mistério, não definível ou limitado, mas sempre inovador e capaz de ser sempre uma maravilhosa surpresa. A aparência é fenômeno, isto é, aquilo que se apresenta, e não a coisa em si. Todos somos responsáveis pelos outros, e pecamos quando agimos sem caridade e fugimos do nosso compromisso de cuidar do outro, proteger e amar. “Cuidar é mais que um ato, é uma atitude de preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro. As pessoas, não possuem somente corpo e mente, são seres espirituais. Assim, devemos valorizar esse lado espiritual através do sentimento e do cuidado com o nosso planeta”. (Leonardo Boff) Cuidar para que a vida humana seja sempre digna. Não estou fazendo um desabafo, mas alertando para termos cuidado uns com os outros. Cessemos na Igreja com a cultura da fofoca e maledicência. Sejamos de fato a comunidade dos seguidores de Jesus, que colocam no centro da vida: o amor, pois “Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos.” (Fl 2,3) 

Cessemos, na Igreja, com as divisões e os partidos, pois somos todos irmãos e pertencemos a Cristo. Em todas nossas ações ou até tentativas de julgamento não esqueçamos: _“Caritas enim Christi urget_  _nos”_ (II Cor. 5,14) Portanto, que a caridade, ou seja, o amor ágape, nos constranja de tal forma que sejamos todos sempre mais fraternos e respeitosos. NÃO SOU TRADICIONALISTA, O CHATO QUE PRECISA DIZER O ÓBVIO. SIMPLESMENTE, SOU UM SACERDOTE ZELOSO E FIEL A CRISTO E À IGREJA. “Cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão. Assim Jesus no-lo ensina e convida-nos a acreditar. O seu olhar desafia-nos a pedir e a procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação. Por vezes, a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que vos impelem a olhar para diante e não aquelas que vos desencorajam”, (Papa Francisco) “Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! Ó Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogo-te que me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha causa. Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus” (Jr 20, 11-13).

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