Rotularização II -cuidado você pode ser comido socialmente -


Alguns meses atrás, escrevi um artigo sobre a rotularização. Penso ser necessário falarmos sobre o assunto. Caríssimos leitores, peço-vos a gentil permissão para falar neste simples artigo sobre a “banalização da imagem”. Talvez, o nobre leitor já tenha escutado a teoria sobre a “banalização do mal”, de Hannah Arendt, na qual a referida pensadora faz uma análise epistemológica sobre o julgamento de Eichmann sobre os horrores praticados pelo Nazismo. “Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência — ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos”. – Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Banalidade do Mal (1963). O ser humano é pensante, condição ontológica do homem. Quando se esvai a capacidade de refletir, discernir e julgar de modo honesto, desemboca no perigo da infantilidade na capacidade de raciocinar. Os homens tendem ao canibalismo social, isto é, uma tendência de destruição extremamente violenta. Então, faz-se necessário desenvolver ou fazer crescer em nós a capacidade de refletir sobre nossas ações e palavras. “Vi claramente que todas as coisas que se corrompem são boas: não se poderiam corromper se fossem sumamente boas, nem se poderiam corromper se não fossem boas. Com efeito, se fossem absolutamente boas, seriam incorruptíveis, e se não tivessem nenhum bem, nada haveria nelas que se corrompesse. De fato, a corrupção é nociva, e, se não diminuísse o bem, não seria nociva. Portanto, ou a corrupção nada prejudica — o que não é aceitável — ou todas as coisas que se corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite dúvida. Se, porém, fossem privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de existir. Se existissem e já não pudessem ser alteradas, seriam melhores porque permaneciam incorruptíveis. Que maior monstruosidade do que afirmar que as coisas se tornariam melhores com, perder todo o bem.” (Agostinho, 1980, Livro VII, p. 153-154). Em sociedade extremamente relativista, tende-se a fazer desacreditar nos valores, princípios e costumes pertinentes para uma harmoniosa convivência. Quando Hannah Arendt faz sua análise sobre a banalidade do mal, contempla a ignomínia e vergonha da covardia humana em não resistir à tentação de praticar o mal, vilipendiando a dignidade humana. “E assim como a lei de países civilizados pressupõe que a voz da consciência de todo mundo dita "Não matarás", mesmo que o desejo e os pendores do homem natural sejam às vezes assassinos, assim a lei da terra de Hitler ditava à consciência de todos: "Matarás", embora os organizadores dos massacres soubessem muito bem que o assassinato era contra os desejos e os pendores normais da maioria das pessoas. No terceiro Reich, o Mal perdera a qualidade pela qual a maior parte das pessoas o reconhecem - a qualidade da tentação. Muitos alemães e muitos nazistas, provavelmente a esmagadora maioria deles, deve ter sido tentada a não matar, a não roubar, a não deixar seus vizinhos partirem para a destruição (pois eles sabiam que os judeus estavam sendo transportados para a destruição, é claro, embora muitos possam não ter sabido dos detalhes terríveis), e a não se tornarem cúmplices de todos esses crimes tirando proveito deles. Mas Deus sabe como eles tinham aprendido a resistir à tentação.” (ARENDT, HANNAH. Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das letras, 2013. p. 167). Nos últimos anos, tenho sido tristemente rotulado como “um padre tradicionalista”, no sentido pejorativo. Do ponto de vista teológico, não possuo nenhum tipo de vício, pois sempre busco fidelidade a Cristo e à Igreja e à práxis pastoral, sempre em comunhão eclesial. Não consigo compreender minha vida e vocação fora da comunhão eclesial. Respeitando filialmente os bispos e o sumo pontífice, Papa Francisco, legitimo sucessor de Pedro, sempre em unidade, nunca separação ou divisão. Talvez etiquetação seja devido ao silêncio na Santa Missa, cultivo da piedade e devoção no coração para com a fé e a Eucaristia, mas precisa-se entender que não é uma questão simploriamente ideológica, mas o modo como fui educado e minhas vivências. Não suporto barulho. Tenho pavor. Tenho uma vida “monástica” com uma rigorosa rotina diária. É preciso um olhar puro e livre sobre o outro. Não brinque com a imagem do outro. As pessoas se matam. Suas ações podem influenciar de modo negativo e levar à ansiedade, depressão e até ao suicídio. Parece bobagem, contudo, tenha cuidado para não banalizar o mal. “Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros.” (Rm 12, 9-10). Cuidado com o pré-conceito, não construa a imagem das pessoas, a partir de fofocas, calúnias e percepções unilaterais, pois, na profundidade, somente Deus nos conhece. “O pré-conceito condiciona o olhar.” (D. Beto Breis Pereira).








Até o próximo! 

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