INQUIETAÇÃO E FÉ: A IMPACTANTE CONEXÃO ENTRE TDAH E O MINISTÉRIO PASTORAL
Construímos nosso mundo cercados de preconceitos e, às vezes, também
edificamos nossa existência com base no que os outros dizem sobre nós. Mas quem
sou eu verdadeiramente? Sou um complexo aglomerado de possibilidades e dados
armazenados em minha mente. Nossos sentimentos e pensamentos, por vezes, são
confusos. Despatologizar a auto-percepção distorcida é extremamente difícil,
pois nossos pensamentos ficam petrificados, construídos a partir das opiniões
truncadas dos outros e do nosso contexto social e cultural, inviabilizando uma
correta autoimagem. De acordo com a psicologia, pensamentos intrusivos são um
aspecto do transtorno de ansiedade, manifestando-se como ideias repentinas,
indesejadas e persistentes. Eles emergem de forma inconsciente, parecem incontroláveis
e podem perturbar a atenção e a paz interior, comprometendo o bem-estar de quem
os experimenta. Segundo Hershfield, Cohen e Thompson (2012), “pensamentos
intrusivos são pensamentos indesejados e perturbadores que invadem a mente,
frequentemente associados a sentimentos de ansiedade e angústia.”
Aos 40 anos, descobri
que tenho TDAH e impulsividade. No entanto, Deus agiu com Sua providência e
colocou anjos em minha vida. Sinto-me amado e cuidado. Uma miríade de pessoas
está conectada comigo. Cheguei a uma fase da vida em que, apesar dos desafios e
ventos tempestuosos, alcancei um nível de capacidade intelectual e autocontrole
que muitas pessoas com TDAH, após anos de terapia e tratamento medicamentoso,
não conseguiram atingir. Estou no processo de desconstruir as inverdades que
coloquei na mente sobre mim. Aos poucos, estou descobrindo a beleza de ser eu,
com defeitos e inúmeras qualidades. Precisamos de ambientes humanizados,
capazes de extrair o melhor das pessoas.
De acordo com
Ferreira e Moscheta (2019), o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) é uma condição neuropsicológica que afeta tanto crianças quanto adultos,
caracterizada por sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e
impulsividade, que podem causar desafios significativos nas atividades diárias
e no funcionamento geral.
O ambiente é de vital
importância para o nosso desenvolvimento psicológico e emocional, pois é ele
que nos molda e desperta a necessidade de autoconhecimento. O papel
extraordinário do meio ambiente abre a perspectiva de um futuro muito mais
bem-sucedido, no qual seremos mais humanos e humanitários e onde nos
conduziremos com maior habilidade por conhecer nossa verdadeira natureza
(SKINNER, 1982, p. 204). Apesar da pressão para que o ser humano "se sinta
livre", a verdadeira liberdade só é alcançada no momento da tomada de
consciência (SKINNER, 1993). Skinner argumenta que a liberdade só existe quando
o indivíduo é capaz de discriminar seus comportamentos e as variáveis que os
controlam; ou seja, a liberdade está intrinsicamente ligada ao
autoconhecimento. Como já discutido, o autoconhecimento se desenvolve através
da interação com a comunidade. Portanto, é essa interação que proporciona a
verdadeira liberdade ao indivíduo.
No entanto, muitas
vezes o ser humano busca o sentimento de liberdade apenas dentro de si mesmo.
Skinner (1982) afirma que a verdadeira sensação de liberdade só será alcançada
quando o indivíduo reconhecer sua verdadeira natureza — algo que frequentemente
não ocorre porque a pessoa busca soluções nos lugares errados.
Esse tema é
profundamente relevante e oferece uma visão integrada das dificuldades e das
estratégias de enfrentamento associadas ao TDAH na prática religiosa. Explorar
essas questões pode contribuir para uma melhor compreensão e apoio a indivíduos
em vocações semelhantes, promovendo uma maior inclusão e eficácia pastoral.
O Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) tem se revelado um processo inicial de autoconhecimento,
permitindo-me explorar minhas limitações e potencialidades. Este processo
inclui a descoberta do valor da gratidão, do amor e do sentimento de ser amado,
além da construção de estratégias para gerenciar minhas emoções, pensamentos e
comportamentos.
Do ponto de vista psicológico, o TDAH
contribui para minha inquietação contínua, o que me leva a buscar uma
aproximação espiritual através da oração. A prática de rezar com mais
profundidade, treinar a paciência e cultivar o silêncio são aspectos
fundamentais para meu desenvolvimento pessoal e espiritual. A literatura
psicológica sugere que a prática de mindfulness e técnicas de regulação
emocional podem ser benéficas para indivíduos com TDAH, ajudando a melhorar o
controle de impulsos e a atenção (Barkley, 2015).
No exercício do ministério presbiteral
como pastor, o TDAH tem influenciado minha prática pastoral ao tornar-me mais
assertivo e proativo. O desenvolvimento de habilidades como a escuta ativa e a
implementação de estratégias organizacionais eficazes têm sido cruciais.
Recordo que, em 2018, ao iniciar meu trabalho na paróquia, tomei a iniciativa
de formar um círculo com os paroquianos, ouvindo suas histórias e demandas sem
interrupção. Esse ato impulsivo e espontâneo serviu como um catalisador para
ações que melhoraram a evangelização e a organização financeira e
administrativa da paróquia.
Finalmente, expresso minha profunda
gratidão a Deus, à Igreja, à bem-aventurada toda Santa Virgem Maria e aos
santos que intercedem por mim, ao meu anjo da guarda, que sempre me protege, e
a minha rede de apoio, incluindo meus familiares e as pessoas que
verdadeiramente me amam. Agradeço também aos psicólogos Ricardo Santana, Djairo
e Melinda, que têm sido fundamentais no processo de reconstrução e
autocompreensão da minha vida psíquica e emocional. Como argumentado por Neff
(2011), o suporte social e a autocompaixão são aspectos essenciais para o
bem-estar psicológico e a eficácia das estratégias de enfrentamento.
Se sou amado, é porque, de alguma
forma, contribuí para semear amor no coração das pessoas ao meu redor.
REFERÊNCIAS
BARKLEY, R. A. Attention-deficit
hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment. New York:
Guilford Press, 2015.
FERREIRA, R. R.; MOSCHETA, M. D. S. A
multiplicidade do TDAH nas diferentes versões produzidas pelas ciências no
Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 35, p. e3539, 2019.
HERSHFIELD, H. E.; COHEN, T. R.;
THOMPSON, L. Horizontes curtos e situações tentadoras: a falta de continuidade
para nossos eus futuros leva à tomada de decisões e comportamentos
antiéticos. Comportamento Organizacional e Processos de Decisão Humana,
v. 117, n. 2, p. 298-310, 2012.
NEFF, K. Self-Compassion: The
Proven Power of Being Kind to Yourself. New York: William Morrow
Paperbacks, 2011.
SKINNER, B. F. Sobre o
behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1982.
SKINNER, B. F. Ciência e
comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

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